Fernando nasceu em um lar de pedras e
cercado por terra vermelha, com unhas e pés sujos não deixava de estampar no
rosto sua alegria por andar descalço em meio ao barro vermelho.
Andou muito cedo, desde pequeno seu
sonho era se tornar alguém importante, alguém da televisão, principalmente se
fosse ou jogador de futebol ou piloto de fórmula 1. Vivia correndo atrás de uma
bola, ou se aventurando em ladeiras com seu carrinho do Senninha.
Fernando cresceu com medo de fantasmas,
assombrações, escuro, cachorro, a música do globo repórter e até galinha, mas
como que pra toda criança isso era normal, essa fase iria passar. Bem o medo da
galinha ainda não passou, mas essa história fica pra depois.
Já longe da terra, perto do asfalto e
em um lar de madeira Fernando, descobriu que acordar cedo, matemática e futebol
(esse ainda dava pro gasto) não era o seu forte.
O lar de madeira era velho, mas muito
feliz, seu telhado era torto e quando olhava pra ele parecia estar sorrindo.
No lar de madeira Fernando cultivava
amizades, fazia inúmeros churrascos, incomodava a vizinhança com seu heavy
metal alto, passava o dia olhando as menininhas que passavam na rua e começava
a pegar gosto pela vida noturna.
Fernando namorou uma única vez na vida,
e o lar de madeira presenciou esse feito.
O lar de madeira de tão velho parecia
não estar mais sustentando tanta felicidade, começaram a vir às reformas e o
seu telhado começou a parar de sorrir.
Fernando era um rapaz trabalhador
ajudava sua família no que fosse preciso, não gostava mais fazia, algumas vezes
de cara feia outras nem tanto, mas estava lá.
Fernando começou a adquirir opinião
sobre vários assuntos, não queria ir pro exercito, não gostava da idéia de ter
que trabalhar braçalmente, não gostava de sol, não gostava de horário, não
gostava de estudar (mas gostava de ir até a escola) não gostava de outros tipos
de musica (e é chato até hoje), arranjou muitas brigas no lar reformado e mal
acabado com isso.
Fernando só queria era festar, beber, pegar
as menininhas, aprontar na escola e no final das contas acabar como centro das
atenções. As vezes conseguia, outras vezes se fodia. Um verdadeiro porra louca.
O lar reformado mal acabado foi
repartido ao meio e em uma das metades e foi construído um novo velho lar,
bonito por fora e escuro por dentro. Apesar de novo já parecia estar desgastado
com o tempo, seu telhado não sorria mais, era reto e indiferente.
Lar desgastado vidas desgastadas,
magoas e rancores foram adquiridos por Fernando nesse tempo.
Fernando teve que olhar a realidade de
outra forma, viu que teria que lutar pra continuar sonhando, alguns apoiavam
outros reprovavam, mas Fernando era teimoso feito seu avô Chico quanto suas
escolhas e opiniões. A única diferença é que seu Chico não errava nunca, já
Fernando, ah o Fernando sim errou, caiu se machucou quebrou a cara, mas
levantou e percebeu que cair era um pretexto a mais da vida para provar a ele
que era capaz de se levantar, (agora de volta ao lar de madeira, um pouco mais
discreto, mas sorridente) fazê-lo perceber que a família e os amigos são o
suporte para felicidade. E mesmo que as pessoas não sejam as ideais, os amigos
não sejam tão amigos assim, os amores não sejam tão perfeitos como no cinema,
Fernando percebeu que ser grande é ser feliz, e que pra ser feliz é preciso dar
valor as pequenas, simples, belas e verdadeiras coisas que a entidade ingrata
chamada vida lhe proporciona, e que mesmo que brigue, que sofra e que chore por
algo ou alguém, nunca, jamais devera guardar algum rancor, porque a vida passa
e com ela ele passara também, e passar pela vida sem ser percebido é uma tolice
imensa.
Fernando uma
indecisão ambulante, mergulhado em uma viagem só de ida por caminhos,
desconhecido, talvez perigosos mas muito divertidos.